“Finalmente Bia. Você acertou em cheio dessa vez!”
Esse era meu pensamento naquela manhã de Segunda-feira. Não costumava me vangloriar por minhas conquistas amorosas, era sempre um desastre quando o fazia. Mas daquela… Ah, daquela vez, tudo estava indo tão bem que parecia um sonho. E não que eu acredite em sonhos, não acredito, mas quando se está vivendo uma situação que parece um sonho, o que dizer?
O homem que me fazia feliz era meu chefe. É, eu sei que não deveria dormir com ele, mas estava acontecendo. Eu sabia que ia acontecer algo se eu desse trela, a forma que ele me olhava, o jeito que falava comigo, os insistentes convites para almoços e jantares. Não queria dar uma de difícil – eu não sou, mas também não queria que ele pensasse que durmo com tudo mundo – também não faço isso, e confesso que muitas vezes, já me arrependi por não fazer.
Foi assim que aconteceu. Aquele jantar, um motel, uma transa espetacular, uma rosa na minha mesa quando cheguei ao escritório. Eu sorri, ele sorriu. Tudo ficou iluminado. Depois foi assim, um boquete na sala dele, sexo rápido no banheiro, masturbação no carro enquanto íamos ao motel, me chamar de puta e me comer de quatro.
Era o mundo rosa onde todas as garotas deveriam viver. Era o que eu pensava naquela Segunda-feira.
“Você é a Beatriz? Eu sou a esposa do Paulo.”
Foi o que eu escutei naquela tarde de Terça-feira. A informação não era novidade, eu sabia que Paulo era casado porque no segundo encontro, eu o tinha visto com a aliança. Pensei que não ia durar e então não me importei. A esposa era bonita, estava zangada e veio me pedir para deixar o marido dela em paz.
Claro, eu fiquei chocada. Mas sou bastante hipócrita pra me chocar. Depois eu pensei que eu não tinha nada a ver com o casamento deles. Na verdade, eu tinha, mas agi como uma vadia só porque realmente sou uma. E no final, estava chorando no banheiro porque meu sonho rosa estava se despedaçando.
Eu o evitei por dois dias. Eu fui forte, eu acho. Mas como eu disse antes, quando um cara te chama de puta e você quer continuar transando com ele, é porque é bom. De fato, era uma puta e estava estragando um casamento.
O pensamento me fez evitá-lo durante duas semanas e dois dias. Fui forte.
“Precisamos conversar. Não vai resolver nada ficar fugindo… Eu sinto sua falta.”
Minha noite de Quarta-feira não podia ser pior. Maldito trabalho atrasado que me obrigou a ficar ali revisando material. Paulo estava parado à porta do escritório, tinha jogado o blaser sobre o ombro esquerdo e veio em minha direção.
Maldito coração que resolveu pular no peito. Meus olhos desviaram-se com esforço do corpo dele. Maldito homem sexy.
E eu sentia falta dele também.
Sobre o que ele queria falar? Achei que tudo estava bem claro com a visita da esposa. E eu tinha pensando e não queria estar metida naquela situação – mais por questões morais do que éticas, pois como sabemos, eu sabia que ele era casado e continuei mesmo assim.
E nessa parte, foi como um filme, daqueles românticos. Ele disse que não queria me magoar, que estava apaixonado e que tinha agido mal. Tudo bem, eu já tinha entendido que ele era um canalha, mas de certa forma, achei confortante ele me dizer isso (ao menos eu não seria a única puta nessa história toda). Depois, segurando minhas mãos (e eu não sei bem quando ele fez isso), disse que eu tinha sido uma mulher espetacular e que entenderia se eu não quisesse continuar a vê-lo.
Seguido disso, estávamos no almoxarifado, transando como dois adolescentes desesperados. E claro, palavras ofensivas a esposa saiam da minha boca. Ele estava rindo e concordou com cada palavra.
Éramos dois putos.
“Eu vou me separar. Só preciso de mais tempo… Você sabe, ne? As crianças. Eu não quero que elas sejam infelizes, a família é importante. Mas eu te amo e abriria mão de tudo para ficar com você.”
Me julgava uma mulher inteligente, bem pra frente e que não iria ficar fixada a um homem. No entanto, essa era minha situação naquela Quinta-feira cinzenta. Estava olhando pro café, pensando naquelas palavras, pensando no que tinha feito da minha vida.
Eu recebi uma proposta para trabalhar em outra cidade. Eu não estava falando com meus amigos sobre o meu caso, mas comentei com eles sobre essa promoção. Todos me apoiaram para ir e esse era meu desejo. Queria tanto crescer e mostrar que era capaz de viver como havia jurado.
Mas estava terrivelmente apaixonada e eu nunca imaginei que poderia ser tão estupida. Ele disse que iria se separar, que íamos viver juntos. Eu estava querendo desesperadamente isso. Ele falava tudo o que eu queria e me descobri como uma dessas moças que finge que casamento não é importante mas não vê a hora de casar.
A esposa nunca mais apareceu, éramos discretos. Depois de um tempo, você adquire a habilidade de esconder de todos que está tendo um caso, inclusive de você mesma. Era o meu romance rosa e não um caso. O homem seria meu e estaria feliz pra sempre.
Ainda não tinha respondido sim para a promoção e estava inclinada a negar… Porque eu o amava. E quando foi que eu me tornei esse tipo de pessoa?
“Você o quê?”
Sandra jogou o guardanapo na mesa com força e disse que tinha perdido o apetite. E assim o almoço da Sexta-feira chuvosa acontecia. Ela era minha amiga do colégio interno, tivemos a educação severa das freiras e deveríamos ser boas pessoas. Talvez ela fosse, eu não era. Decidi contar primeiro a ela sobre o caso porque eu sabia que ela era uma pessoa razoável, que equilibrava bem o amor, desejos e metas profissionais. Sandra saberia bem o que me dizer… Era o que eu estava esperando. Sua reação também levou meu apetite embora.
Sua reação não foi só a de não terminar sua refeição. Incluía me olhar nos olhos, me chamar de vadia e dizer que estava envergonhada por saber que uma amiga agia daquela forma. Quem poderia tirar a razão dela? Murmurei que estava apaixonada e tudo o que ouvi dela, antes de Sandra se levantar, foi que essa era a pior desculpa possível.
Ela se foi sem olhar pra trás, seu perfume ficou como companhia. Quis chorar. Ela estava certa. E todas as promessas dele? Não sabia se estava pronta para negar todo o sonho que construí. Mas sabia que ela estava certa.
Então chorei. De raiva, frustração e mágoa. A lata de chantili foi minha amiga naquela noite. Não atendi aos telefonemas e fingi que o mundo tinha sido cruel comigo quando tudo o que fiz foi ter minhas escolhas e fazê-las a minha maneira, ignorando o meu bom senso.
E no final, acabaria gorda.
“Bia, escuta bem! Se ele é o homem da sua vida, você tem que lutar por ele. Não pode se deixar abater porque ele é casado. Você tem que lutar. E essa promoção? Pelo amor de deus, o dinheiro não é nada quando se trata de amor.”
De alguma forma, eu me sentia desconfortável pelo apoio que recebia de Sara. E ela estava falando tudo o que eu queria ouvir naquela tarde de Sábado. Claro, deveria ter procurado ela antes, as palavras cruéis de Sandra não seriam nada com esse apoio. No entanto, a ordem invertida me fazia pensar: que porra eu estou fazendo?
Sara era a “outra” feliz. Se acreditava que valia a pena, ela ficava com o homem. Eu a invejava? Não sabia responder da primeira vez que me perguntei sobre isso. Paulo era meu primeiro caso, Sara sabia bem como lidar com a situação. Ela falava de amor, sexo, necessidades e esposas com naturalidade. Eu a invejava em algum ponto, mas não estava descobrindo qual era.
Pensei se algum homem havia feito essas promessas a ela. Pelo o que eu bem sabia, nenhum precisava fazer, Sara vivia de homens casados e não queria que nenhum deles se separasse de verdade, o que tornava seus conselhos incoerentes.
E sim, eu a achava maluca com todo aquele discurso de amor, mesmo que ele fizesse todo o sentido do mundo. Era tão bom estar apaixonada, não era culpa minha se o homem era casado. Eu podia mesmo fazer o que ela estava falando e roubá-lo pra mim, se ele estava disponível, era porque a esposa não fazia as coisas direito – e convenhamos, do jeito que fazíamos sexo, eu duvidava que houvesse algo parecido com a esposa.
Pensar nisso trouxe a imagem severa de Sandra e me senti mal.
Sara sentiu minha falta de confiança e me deu um chocolate, pedindo pra que eu fosse confiante. O problema era saber no que eu confiaria.
Eu não via Paulo nos finais de semana – eles eram da família. E agradeci por aquele feriado prolongado, teria tempo pra pensar. E havia muito em que pensar.
“Bia, você não é estupida, então por que está agindo como se fosse? Beber a porra desse cara a deixou burra por acaso? Qual parte você não entendeu do ‘eu estou confortável, eu não vou me separar, vou continuar comendo você e ela’ que você não pegou? Aqueles seus sonhos foram largados por causa de um pau? Deveria se envergonhar…”
A ironia de Sérgio sempre me magoou. Quem aquela bicha achava que era pra falar comigo naquele tom? Me tratando como uma completa idiota quando tudo o que fiz foi perguntar o que ele faria em meu lugar. Era tudo o que eu não precisava ouvir naquele Domingo.
Ele não pediu desculpas e depois de longos minutos de silêncio, me joguei em seus braços chorando. Ele era meu amigo de infância, aquele que mais me conhecia, que mais sabia de meus desejos e aquele que tinha o direito de me tratar daquele jeito quando eu agia como uma puta destruidora de casamentos (bem, esse final não era totalmente verdade, já que Paulo nunca deixou a esposa, mas quis deixar assim porque era como me sentia).
O conforto durou pouco. Sérgio voltou a me atacar, a jogar na minha cara todas as coisas cruéis que havia dito a vida toda e me deu um tapa quando disse que ele era uma bicha que estava me invejando porque, pelo menos, eu tinha alguém pra me comer. Claro, ele não era gay e ficou ofendido com minhas palavras.
O importante foi que ele trouxe a pequena Bia pros meus olhos. E ela tinha sonhos que deveriam ser conquistados. Eu era um monstro, afastando meus sonhos de mim mesma. E Sérgio tinha razão, tudo por um homem casado e bom sexo (muito bom, eu sempre devo frisar essa parte!). A promoção me realizaria como profissional e estava deixando tudo pelas promessas de Paulo – que estavam se arrastando há meses.
Então, eu chorei mais.
E nunca me senti tão estupida em toda a minha vida.
“Finalmente Bia. Você acertou em cheio dessa vez! Você está feliz?”
O nome no vidro fosco na porta era o meu. Aquela sala era minha. Ali atuava e fazia jus ao salário que estava recebendo. E tinha aquela vista… Ah que vista. Nunca achei que a mistura de concreto e formas fosse agradável do alto, mas era.
Sentada com meu café (agora numa xícara com meu nome!!!!), estava olhando pra vista do meu novo escritório. No final, eu aceitei a promoção – depois de muito chorar, e mudei de cidade. Já estava o ritmo do novo local, estava engajada e meu passado de amante parecia distante – mesmo com o Paulo ainda dando sinais de vida.
A pequena Bia estava satisfeita, meus amigos tinham apoiado a minha decisão e eu estava feliz. E pensar que eu ia largar tudo por causa de um caso. Sorri, bebendo o café, o que eu estava pensando? (ou não pensando?)
Todas as coisas pareciam distantes. As decisões pareciam ridículas agora, mas tinham o sentido exato daquele momento da minha vida. Era estranho olhar pra trás e ver o quanto tinha caminhado. Eu sentia saudade do sexo. O amava, mas amava mais ainda aquela realização. Por que eu balanceava duas coisas distintas como essas? Porque eu podia fazê-lo, aquela Bia maluca tinha juntado as coisas para que a nova Bia decidisse.
E eu gostava mais quando era daquele jeito.
Minha segunda Segunda-feira, eu era feliz comigo mesma. Não sabia quanto aquilo iria durar e não estava preocupada. O novo auxiliar administrativo é uma gracinha, bem mais novo e com sorriso bonito. Semana passada ele me chamou pra sair, eu quase ri dele, coitado. Não ia bem rir dele, mas da situação. Ele disse que eu era a mulher mais bonita e confiante que ele conheceu. Eu quis rir disso.
Se eu falasse o que tinha feito antes, ele iria se afastar? Mas por que eu falaria?
Ainda amava aquele canalha do Paulo. Iria esperar antes de iniciar qualquer novo relacionamento. Essa coisa de “novo amor cura amor antigo” era uma falácia. Eu nunca acreditei nisso. A única coisa que poderia curar – se havia algo a ser curado, era o Senhor Tempo. Estava ainda me acostumando a cidade e a nova vida, então eu tinha tempo.
Mas claro que todas as minhas declarações tornavam-se vazias quando o garoto chegava e dizia que eu estava certa em ser cautelosa, que deveria experimentar o produto antes de adquiri-lo. De certa forma, ele se tratar assim me deixava excitada. E eu disse que era uma puta, não disse? Então, quando acabei com o pau dele dentro da minha boca (experimentando o produto), foi que eu pensei que tudo estava começando…
Novamente. E era assim que todos meus romances – fracassados ou não – começavam.
FIM.
(Arigatou Takkun por betar pra mim ^^)
O.o como expressão satisfação, surpresa, encantamento, admiração… tudo isso junto. Tá, vou resumir: sou tua fã! Sem mais!!!!
o.O
Obrigada! Que bom que gostou. Fiquei feliz ^^
Essa escrevi numa noite e esse maldito worpress zuando a forma que concebi o conto, mas tudo bem.
Como eu não li isso antes? Carola que texto maravilhoso é esse? Confesso que é difícil me acostumar com você fora do mundo das fics, mas acabo de descobri que você tão boa em mim quanto no outro. Amei!
Nha, obrigada!
Estava tão sem jeito e eu gostei tanto.
Obrigada mesmo ❤